quinta-feira, 9 de abril de 2009

Reflexões sobre a autonomia

Recebo muitas mensagens de pais às voltas com a educação dos filhos, e um fenômeno tem me chamado a atenção: a correspondência de pais cujos filhos fazem cursinho ou estão na faculdade tem crescido bastante. O ditado popular "filho criado, trabalho dobrado" agora parece ter aplicação literal.
São várias as questões com as quais os pais têm dificuldades de lidar: um jovem não quer estudar nem trabalhar, outro já prestou vestibular três vezes e quer fazer mais um ano de cursinho porque não desiste de tal universidade, uma jovem que acredita ter feito uma escolha equivocada de curso e agora quer largar tudo, outro que exige um carro porque não quer usar transporte coletivo etc.
Apesar da diversidade de situações, podemos arriscar uma hipótese abrangente: muitos jovens hesitam em entrar na vida adulta. Essa adolescência estendida tem sido construída com o apoio das instituições mais importantes na formação deles: a família e a escola.
Nunca falamos tanto em autonomia quando tratamos da educação dos mais novos. Pais de crianças com menos de cinco anos já autorizam o filho a passar a noite em casa de conhecidos, permitem que escolha suas roupas, brinquedos e até a escola que frequentará. Um pouco mais tarde, em nome da autonomia, muitas crianças são abandonadas à mercê de seus parcos recursos de autocontrole.Isso quer dizer que damos autonomia às crianças e aos adolescentes quando ainda não têm competência para usá-la.
Aliás, nunca é demais lembrar que o processo de construção da autonomia passa, necessariamente, pela heteronomia, ou seja, por um período de submissão a alguns adultos. Parece que essa autonomia significa sair de cena para que o jovem "protagonize" sua vida. Mas é preciso entender que a passagem da heteronomia à autonomia ocorre a partir da adolescência, jamais na infância, e com a devida tutela dos pais e da escola, que devem acompanhar como o jovem administra a liberdade pela qual terá de se responsabilizar.
Tal atitude faz parceria com outra assumida por muitos pais. Eles fazem de tudo para evitar que os filhos sofram, enfrentem as dificuldades da vida, se frustrem, arquem com as responsabilidades sobre seus atos. Ao mesmo tempo, tentam oferecer-lhes a melhor vida social possível.
Isso faz com que os jovens cheguem ao final da adolescência sem autoconfiança, sem orgulho de seus feitos, com enorme dificuldade para perseverar diante das dificuldades e com medo do futuro. Aí dá para entender sua falta de resistência diante da adversidade, dos obstáculos e das exigências do final da adolescência. A opção que surge, então, é estender esse período, evitar a responsabilidade de ser adulto, viver por sua própria conta e risco.
Os pais que querem ajudar esses jovens precisam sair de cena, ainda que tardiamente, para que eles finalmente tenham oportunidade de realizar o potencial que têm.
Fonte: http://blogdaroselysayao.blog.uol.com.br/arch2009-04-01_2009-04-15.html
Escrito por Rosely Sayão

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