domingo, 26 de outubro de 2008

Por uma infância mais feliz


Pesquisa revela que 12,6% dos brasileiros entre 6 e 17 anos apresentam sintomas de distúrbios psicológicos. Médicos alertam para importância de diagnóstico precoce e tratamento adequado

André Bernardo


Rio - Gustavo evita sair de casa com medo de sofrer um seqüestro-relâmpago. Já Gabriela teme que a crise no mercado financeiro prejudique os seus estudos. Os nomes são fictícios, mas as histórias são reais. E o mais preocupante é que Gustavo e Gabriela têm apenas 7 e 11 anos, respectivamente. Apesar de tão jovens, eles já sofrem de Transtorno de Ansiedade, apenas um dos muitos distúrbios que afetam as crianças e os adolescentes brasileiros.

Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), 12,6% dos brasileiros entre 6 e 17 anos já apresentam sintomas de transtornos mentais importantes. Isso equivale a dizer que cerca de 5 milhões de crianças e adolescentes sofrem de algum distúrbio psicológico. Deste total, aproximadamente 3 milhões têm sinais de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) — o transtorno psicológico mais freqüente entre a garotada.

“A criança pode até ser muito agitada, aprontar de vez em quando e não ser hiperativa. Os pais devem ficar atentos quando esse tipo de comportamento começa a interferir na vida familiar, na interação com os amigos, nas atividades de lazer e no rendimento escolar da criança. Se houver prejuízo significativo na vida da criança, é sinal de que os pais devem tomar providências e buscar atendimento especializado”, alerta Tatiana Moya, coordenadora da pesquisa.

Além do TDAH, o estudo da Associação Brasileira de Psiquiatria engloba também outros transtornos, como o Bipolar de Humor e o Obsessivo-Compulsivo, também conhecido pela sigla TOC. No primeiro, a criança apresenta oscilações freqüentes de humor. No segundo, cultiva pensamentos obsessivos e ritualísticos com relação à limpeza, morte e organização. Alguns destes distúrbios, ressalvam os especialistas, tendem a surgir já na fase da pré-escola.

“A pressão que os pais exercem sobre os filhos é muito maior do que há 20 ou 30 anos. Hoje em dia, crianças de 5 ou 6 anos têm que prestar uma espécie de ‘vestibulinho’ para ingressar na 1ª série escolar. E sabem que, se não passar, papai e mamãe vão ficar tristes.

Uma criança nesta idade não tem maturidade neurológica para lidar com uma competição tão acirrada”, afirma Fábio Barbirato, chefe do serviço de Psiquiatria Infantil da Santa Casa da Misericórdia, no Rio, que atende a uma média de 300 crianças e adolescentes por mês.

Prefeitura do Rio oferece atendimento

Atualmente, o Rio oferece quatro Centros de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi) para o atendimento de transtornos psicológicos. Juntos, atendem uma média de 1.200 crianças e adolescentes. A expectativa de Hugo Fernandes, coordenador de Saúde Mental dos CAPSIs da Secretaria Municipal de Saúde, é a de inaugurar, no primeiro semestre de 2009, uma quinta unidade na Leopoldina. “A prefeitura oferece ainda 68 equipes de saúde mental para os casos menos graves”, salienta.

Ao todo, o Ministério da Saúde oferece 602 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), sendo 95 voltados para o atendimento infanto-juvenil. “A falta de tratamento na infância pode causar seqüelas no futuro. Mais adiante, essa criança pode se transformar em um adulto com transtornos psicológicos, que pode ter filhos com os mesmos sintomas”, alerta a psiquiatra Tatiana Moya, da ABP.


Fonte: http://odia.terra.com.br/ciencia/htm/por_uma_infancia_mais_feliz_208570.asp


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