segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Educação: questões de nosso tempo...


Texto da Dra. Hilda Alevato, publicado pelo CB25 Notícias, Informativo do Comitê Brasileiro da Qualidade/ABNT, Ano 13, número 59 - Outubro/2009


Uma das marcas mais fortes dos tempos atuais é a instantaneidade.
Os homens têm pressa e buscam velocidade. Consideram lenta uma conexão que leve mais do que 2 segundos para trazer informações sobre qualquer coisa, de qualquer lugar. Já não sabem sequer esperar pelo domingo para ler o jornal de domingo: compram a versão distribuída no sábado. Seria mesmo um jornal de domingo? Não importa...
A mesma marca do instantâneo embute o descartável: nada a conservar. Para que consertar qualquer coisa, se é possível comprar outra, com design mais avançado, sem sair de casa? Sem tempo nem para burilar os amores - conquistas feitas de detalhes, esculpidos em paciência e tolerância - até os afetos se descartam, gerando um vazio que contrasta com a montanha de lixo que os materiais desprezados vão produzindo. É isso: o desprezo afetivo gera um buraco, a sensação oca do nada, enquanto o desprezo material nos entulha de plásticos e pneus que a natureza teimosamente guarda. Em comum, a capacidade de sufocar...
Notícias repetidas à exaustão em inúmeros telejornais e páginas na internet, alimentam a banalização da vida e a falsa sensação de que os problemas são sempre os mesmos e, portanto, insolúveis. Isto contrasta com a multiplicidade de inovações que a tecnologia cria e a indústria nos impõe. Invadidos por chavões sem consistência e perdidos no senso comum das celebridades da hora, vivemos ansiosos por soluções tão mágicas quanto definitivas, que nos deixem livres e desobrigados, quem sabe para viver a ilusão de descobrir tudo logo ali, em outra parte do planeta. Ao mesmo tempo, a ânsia por respostas verossímeis parece compensar a insegurança coletiva de uma vivência tão fragilizada. É difícil imaginar a ficção científica hoje. Tudo parece possível.
Buscamos saber mais e mais, lidando mal com a informação excessiva, disponível e duvidosa, que circula na convergência das mídias. Há ainda os impressos, as ondas, os satélites e até os antiquíssimos contatos pessoais, perdidos entre milhões de contatos online. Tantos dados e descrições, simplificados para sobrar tempo/espaço para outros tantos, vão deformando a realidade como na brincadeira do "telefone sem fio", tão antiga quanto as "certezas" que ninguém mais arrisca assumir. Ninguém? Não tenho certeza...
Como escapulir de tantas armadilhas? Pela educação, responderiam alguns. Educação, entretanto, requer tempo, acolhimento, carinho, atenção.
Mas, e nossas escolas? Instituídas num tempo em que sequer havia papel, destinadas a preservar e transmitir o "conhecimento", dependentes de memorizações e repetições precisas do que diziam, com segurança, os sábios, vêem-se hoje impactadas por questionamentos e dúvidas de toda ordem.
Dispondo de tantas formas de armazenamento e acesso aos dados e informações, a sociedade atual ainda não se apercebeu que enfrenta o desafio de dar nova destinação à escola: destinar o esforço educativo ao desejo de aprender e à transformação dos procedimentos escolares; destinar o esforço didático ao domínio das linguagens; destinar o esforço social à valorização da educação e da acolhida; destinar o esforço político ao apoio à enorme tarefa que nossos professores e pedagogos têm enfrentado.
Não há fórmulas prontas e a sensação de muitos é de uma grande incompetência, teórica e prática. Não concordo com isso. Vivemos a inescapável condição de sujeitos de uma história que ainda não acabou...

Fonte: http://www.abntcb25.com.br/cb25noticias/ed59/M01.htm

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