domingo, 25 de novembro de 2007

Surdez urbana já é problema de saúde pública

Débora Motta, Agência JB

RIO - Buzinas, alto-falantes, sinais de abertura de garagem e barulhos de motor a diesel. O caos da poluição sonora já torna a surdez urbana um problema de saúde pública para os moradores das grandes cidades. Segundo o otorrinolaringologista Cláudio Coelho, o limite de emissão de som suportável ao ouvido humano, de 85 decibéis, é ultrapassado em vários pontos da capital fluminense por esses tipos de ruídos.

- Medimos a intensidade da emissão sonora com um aparelho chamado decibilímetro. Em frente ao Edifício Central, Centro do Rio, constatamos 120 decibéis por volta das cinco da tarde, quando a movimentação é mais intensa. Na Zona Sul, na Av. Nossa Sra de Copacabana com a Rua Santa Clara, registramos 110 decibéis. Já fora do Rio, na Rodoviária de Campo Grande, a média de poluição sonora é de 100 decibéis – disse Coelho, coordenador da pesquisa realizada com alunos de Fonoaudiologia.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os ruídos são a terceira principal causa de poluição mundial, perdendo apenas para a da água e do ar, e houve um aumento de 15% da surdez entre a população.

- Esse problema é típico do pós-Revolução industrial. Antes da industrialização, só depois de 50 anos as pessoas costumavam apresentar surdez. Hoje, o problema aparece a partir de 35 anos nas grandes cidades e é irreversível – diz Coelho.

- Pessoas que trabalham na rua, como ambulantes e policiais, tem freqüentemente surdez induzida por ruído – acrescenta.

O ambulante João Batista da Silva Castro, de 48 anos, vem sentido os efeitos da poluição sonora:

- Estou perdendo a audição. Trabalho na Rodoviária de Campo Grande há mais de 10 anos. É muito barulho de ônibus. De uns tempos para cá, venho sentindo um som parecido com o de um apito no ouvido. Espero que seja uma coisa passageira – contemporiza o vendedor de cartões telefônicos enquanto realiza seu primeiro exame de audiometria.

Além de causar surdez, os ruídos urbanos também afetam outros órgãos do corpo.

- A poluição sonora pode causar irritação e estresse no indivíduo e acarreta em problemas na supra renal, que passa a liberar mais o hormônio cortisol, que causa hipertensão, taquicardia, pressão arterial alta e dilatamento das pupilas, como se a pessoa estivesse em situação de perigo. Além disso, causa também impotência sexual e sensação de zumbido no ouvido – alerta Coelho.

- O problema começa devagar. A primeira dificuldade é escutar o sinal do telefone ou da campainha. Depois, a pessoa não consegue compreender algumas sílabas das palavras. O terceiro sintoma é o assobio no ouvido - pondera.

Prevenção

Para o Dr. Cláudio Coelho, as pessoas podem tomar certos cuidados para preservar a audição.

- Constatamos que os walkmans e ipods, quando colocados no último volume, chegam a 120 decibéis. O ideal é posicionar o botão do volume só até a metade no aparelho, para ter um nível suportável de 60 decibéis – diz o médico, membro da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia.

Os profissionais que estão expostos a ruídos devem ter uma preocupação ainda maior:

- Trabalhadores de indústria têm que ser submetidos a exames de audiometria de seis em seis meses e quando perceberem alguma lesão, devem se afastar daquela função. Assim como eles, os guardas de trânsito e ambulantes devem usar abafador de ruído no ouvido.

- Já os músicos que trabalham com shows apresentam danos na audição com certa freqüência. O sistema de som costuma ter mais de 130 decibéis. Porém, a música tem várias freqüências melódicas e não é um som de impacto, um ruído, que causa maior lesão – acrescenta.

O especialista também recomenda descansar o ouvido totalmente pelo menos durante 30 minutos por dia.

- É preciso aprender a se desligar de tudo por alguns minutos durante o dia e procurar locais de silêncio completo, além de dormir sem interferência de barulhos e usar tampões nos ouvidos para descansar o tímpano - explica.

Fonte: http://jbonline.terra.com.br/extra/2007/11/20/e20111983.html

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