quinta-feira, 25 de outubro de 2007

DIREITOS HUMANOS - Observatório Social recebe menção honrosa

Prêmio Herzog de Jornalismo

Esta é a terceira reportagem premiada do Observatório Social. A cerimônia será no dia 25.10 às 19h30 no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.

Uma reportagem sobre mutilações de trabalhadores moveleiros em Santa Catarina, de autoria do jornalista Dauro Veras, do Instituto Observatório Social, recebeu menção honrosa no 29º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, um dos mais importantes do jornalismo brasileiro. Esta é a terceira vez que a organização ganha prêmio por reportagens.

Madeira e sangue, publicada em outubro de 2006 por "Observatório Social Em Revista", mostra que a indústria de móveis e madeira é campeã em acidentes de trabalho que provocam incapacidade permanente em Santa Catarina. As empresas moveleiras enfrentam fortes prejuízos com a valorização do câmbio e adiam ações de prevenção.

Trabalhadores, empresários, representantes do governo e profissionais de saúde e segurança opinam sobre as causas de tantos acidentes e propõem soluções. Mutilados em movelarias contam suas tragédias pessoais, na esperança de que sirvam de alerta aos colegas e evitem outras.

"Fico feliz com a premiação porque ela dá visibilidade a um problema grave: o descaso de muitas empresas com as condições de saúde e segurança dos seus empregados", diz o jornalista. "Prevenção de acidentes não é custo, é investimento". Ele lembra que o governo, os trabalhadores e a comunidade também são responsáveis pela resolução do problema. As fotos de Madeira e sangue são do repórter fotográfico Sérgio Vignes e os infográficos, de Frank Maia.

Premiações

Esta é a segunda vez que o Instituto Observatório Social é contemplado com o Prêmio Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Em 2006, a reportagem "A idade da pedra", do jornalista Marques Casara, recebeu menção honrosa na categoria revista por revelar a existência de trabalho infantil na cadeia produtiva de três multinacionais.

Em 2003, a reportagem "Mineração predatória na Amazônia brasileira", também de Marques Casara, recebeu o Prêmio Esso de Jornalismo de Informação Científica, Tecnológica e Ecológica. Foi a primeira vez, em cinco décadas de existência do prêmio, que o mesmo foi concedido a uma publicação de organização não-governamental.

O Instituto Observatório Social (IOS) foi criado há dez anos por iniciativa da CUT (Central Única dos Trabalhadores) em cooperação com o Cedec (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea), Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos) e Unitrabalho (Rede Inter-Universitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho).

A organização pesquisa o comportamento de empresas multinacionais e nacionais em relação aos direitos fundamentais dos trabalhadores. Esses direitos estão assegurados, principalmente, nas convenções da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que tratam da liberdade sindical, negociação coletiva, trabalho infantil, trabalho forçado, discriminação de gênero e raça, meio ambiente, saúde e segurança ocupacional.

Pressão por produtividade

O Alto Vale do Rio Negro, no Planalto Norte de Santa Catarina, é o maior pólo exportador de móveis do Brasil. São Bento do Sul (75 mil habitantes), Rio Negrinho (45 mil) e Campo Alegre (13 mil) abrigam 650 empresas da cadeia produtiva de madeira e móveis, das quais 450 moveleiras. Juntas, movimentam metade da economia local e empregam 15 mil pessoas.

Um grande problema das indústrias moveleira e madeireira é a falta de investimentos na proteção adequada de máquinas. Qualificação é outro ponto crítico. A quantidade de profissionais formados é insuficiente para atender o mercado e poucas empresas investem no treinamento adequado de seus funcionários. Para agravar o quadro, o número de fiscais do trabalho é insuficiente.

"Pressão por produtividade é uma das principais causas dos acidentes", diz o presidente do Sindicato dos Moveleiros, Airton Edson Martins de Anhaia. "Os empresários citam a concorrência desleal da China como argumento para pressionar por mais produção, por aumento de jornada e terceirizações, e isso leva à fadiga".

Uma pesquisa realizada pela Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho) no município de São Bento do Sul constatou que, de cada cinco acidentes de trabalho, apenas um é comunicado oficialmente à Previdência. O estudo indica que a idade média dos acidentados é 27,6 anos, a maioria homens. Cerca de 72% vitimaram trabalhadores que ganham de um a dois salários mínimos – o piso é de R$ 457,20 e a média salarial, R$ 600,00.

29º Prêmio Herzog

O Prêmio Vladimir Herzog, segundo mais antigo do País (o primeiro é o Esso), é promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, Federação Nacional dos Jornalistas, Associação Brasileira de Imprensa, Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP, Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, família do jornalista Vladimir Herzog, Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo e Fórum Permanente dos Ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo.

A premiação foi instituída quatro anos depois do assassinato de Herzog, como estímulo à produção de matérias sobre os direitos humanos. É uma das mais importantes do jornalismo brasileiro e a principal na área de direitos humanos.

Na categoria revista, a vencedora foi a jornalista Eliane Brum, com a reportagem "No Brasil de Zé Capeta", publicada em Época. Ela aborda a saga de cinco mil brasileiros no garimpo de ouro no Eldorado do Juma, no Amazonas. A relação completa dos premiados está em http://www.sjsp.org.br

Fontes:

reportagem Madeira e sangue

Íntegra da revista 11 em pdf (partes 1, 2, 3 e 4)

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