domingo, 22 de julho de 2007

Avaliação dos Estressores do Ambiente de Trabalho



Dra Hilda Alevato

Pesquisas internacionais validadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) não abrem espaço para hesitações: a maior causa de acidentes e doenças do trabalho no mundo contemporâneo é o estresse. A atenção corporativa aos estressores mais nocivos à saúde de seus profissionais é, portanto, uma decisão não apenas acertada, mas urgente. A validade do estudo sobre o estresse no trabalho, assim como dos estudos sobre a relação entre a experiência laboral e a emergência de distúrbios psíquicos, transtornos mentais, comportamentais e outros, porém, freqüentemente é questionada pela própria complexidade da tarefa de associar tais manifestações e sintomas ao exercício profissional do sujeito. Sem dúvida, os modelos de investigação mais conhecidos no campo da Saúde e Segurança no Trabalho têm se valido de antigos paradigmas que se prendem às características dos riscos físicos, químicos e biológicos. No entanto, se é possível não divergir da relação entre um operário ferido pela queda de um tijolo e os riscos físicos na construção civil, por exemplo, o mesmo não pode ser dito da relação entre um cotidiano permeado de pressões por prazos e metas e a hipertensão arterial diagnosticada em alguém. Nesse caso, é óbvio, não se trata de um agente externo (tijolo) produzindo um risco (queda) e sua conseqüência (ferimento). Os novos cenários exigem inovação de métodos e técnicas de investigação, prevenção e intervenção, de modo a incluir também a dimensão sociodinâmica do trabalho. De uma maneira geral, o foco das iniciativas empresariais acaba se dirigindo exclusivamente aos sintomas, sem deter os riscos. O trabalho que a equipe NEST/LATEC/UFF vem desenvolvendo – uma metodologia complementar à análise de riscos – representa ganhos para a qualidade de vida e melhorias para o desempenho geral, inclusive nos processos de reinserção de empregados afastados, por evitar submetê-los às mesmas condições que motivaram seu adoecimento. Nesse contexto, o estudo contempla a indiscutível subjetividade embutida na percepção particular do sofrimento e sua suportabilidade, sem descuidar da necessária objetividade científica na investigação da potencialidade da ameaça estressora em determinado ambiente laboral. Para tanto, utiliza-se do entrecruzamento de diferentes fontes de dados, através de um método próprio, a “Cartografia dos Estressores”. Seu objetivo é o levantamento de evidências da presença e da nocividade dos estressores, analisados em seu próprio contexto, a partir de um diálogo científico e artesanal, por assim dizer, entre diferentes técnicas. Os resultados expressam-se através de 3 indicadores da potência dos estressores em relação aos agravos à saúde: grave, moderada ou não-evidente, com base na “Taxonomia dos Estressores”[1], também desenvolvida pela equipe. Diante da complexidade do cenário laboral contemporâneo, o melhor caminho para construir um novo paradigma em termos de Saúde e Segurança no Trabalho é uma leitura transversalizada e fractal. Essa modalidade de investigação busca apoio nas vivências intersubjetivas registradas através de entrevistas, análises estético-proxêmicas nos ambientes de trabalho, indicadores de desempenho, estudos da cultura e da ambiência organizacional, dados de absenteísmo, adoecimento e outros. Foi aplicada a um universo de mais de 2000 sujeitos em 2006, gerando uma base de dados que vem servindo ao aprimoramento do método e de suas ferramentas de aplicação.


[1] Trabalho da Dra. Hilda Alevato, vencedor do Prêmio Paul Rosch, na categoria melhor trabalho acadêmico e profissional de 2004, no IV Congresso Internacional de Stress da International Stress Management Association (www.ismabrasil.com.br).








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