Segundo Heliete Maria Castilho Karam,
doutora em psicologia clínica pela Universidade de Paris, os altos
índices de suicídio e as dependências químicas, no mundo todo, estão
ligados ao ambiente de trabalho ruim.
“Algumas pessoas recorrem ao álcool para silenciar esse barulho
interno e anestesiar a consciência. Já o suicídio também começa a
preocupar o Brasil, mas infelizmente aqui não é tão estudado como lá
fora”, afirma.
Segundo ela, em 2010 ocorreram 10.334
suicídios na França, 68% deles relacionados ao trabalho. Já os países
asiáticos estão em primeiro lugar em índices de suicídio entre pessoas
de 14 a 34 anos, que trabalham de 6h às 21h.
“Quando o trabalho não vai bem, não
adianta forçar o trabalhador, exigindo mais assiduidade, mais presença,
mais concentração, mais treinamento, menos erros, mais resultados, mais
produtividade, melhor cumprimento de metas e prazos ou ainda mais e
melhor assiduidade pessoal com sua saúde, muitas vezes responsabilizando
e até culpando-o pelos descuidos do seu corpo ou comportamento”, disse
Heliete Maria Castilho.
O jornal chinês Souther Weekly denunciou
que os freqüentes suicídios ocorridos entre funcionários da Foxconn,
produtora de iPods, iPhones e iPads, foram causados por excesso de
trabalho e maus-tratos. O jornal enviou o repórter Liu Zhi Yi, de 20
anos, para trabalhar disfarçado na fábrica da Foxconn, na unidade de
Senzhen, na China.
Por 28 dias o repórter vivenciou as
péssimas condições de trabalho dos 400 mil empregados da empresa em
Senzhen. Segundo o repórter, os funcionários vivem uma espécie de
“escravidão contratada”. A empresa funciona 24 horas por dia. “Eles
trabalham o dia todo, parando apenas para comer rapidamente ou dormir”.
Liu concluiu que, para muitos empregados, a única saída possível para
esse ciclo desumano é pôr fim à própria vida.
Conforme Liu Zhi, os empregados passam
oito horas de pé e não podem se sentar para descansar e os salários
mensais estão na faixa de 900 Yuan, cerca de R$ 235. O repórter
disfarçado teve que assinar um documento especial: um acordo de horas
extras que diz que a empresa não seria responsável pelas suas longas
horas de trabalho. Segundo Liu, esse acordo “voluntário” anula as leis
estatais chinesas.
Uma das “providências” tomadas pela
empresa foi forçar os novos empregados assinarem um compromisso de que
não vão se suicidar. Outra foi instalar mais de dois quilômetros de
redes junto às janelas dos alojamentos, a uns dez metros do solo, para
que os desesperados que saltam delas não cheguem ao chão.
Psicólogos e dirigentes sindicais de
outros países europeus também alertam sobre um aumento do estresse nos
ambientes de trabalho. “Os suicídios devido a condições de trabalho
precárias e estressantes não são um fenômeno exclusivamente francês.
Pelo menos 27% dos trabalhadores da União Européia (UE) consideram que
sua saúde e segurança estão em risco devido ao trabalho”, declarou
Laurent Vogel, que investiga a saúde trabalhista no Instituto Europeu de
Sindicatos, sediado em Bruxelas.
“Em toda a Europa ocorrem suicídios nos
locais de trabalho, mas estes não aparecem nas estatísticas
trabalhistas”, acrescentou. Segundo Vogel, “admitir o suicídio no
trabalho é tabu, porque questiona a constante busca de maior
produtividade e eficiência”
Por Odenice Rocha
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