quinta-feira, 29 de julho de 2010

Uma Abordagem Social da Incapacidade e da Reabilitação Profissional

Como parte da discussão e estudos sobre Reabilitação Profissional e Incapacidade desenvolvidos desde 2007, a Fundacentro em parceria com os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador de Piracicaba e Campinas, com o INSS e com a Universidade de Toronto, promoverá, de 16 a 19 de agosto, 3 eventos sob o título “Uma abordagem social da incapacidade e da reabilitação profissional”.
Nos dias 16 e 17, haverá um treinamento sobre o "Modelo de Sherbrooke: Prevenção da Incapacidade Permanente para o Trabalho", em Piracicaba (SP), destinado às equipes de reabilitação profissional do SUS e do INSS, que desenvolvem um projeto-piloto.
No dia 18, o tema “Paradigmas da Reabilitação Profissional do Século XXI” será desenvolvido em um conferência e oficina de discussão, abertos ao público, em Campinas (SP). Inscrições: 019-3272-8025.
E no dia 19, será lançado o Dossiê Temático sobre “Incapacidade, Reabilitação Profissional e Saúde do Trabalhador” da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, em São Paulo, no auditório da Fundacentro. Inscrições pelo site da Fundacentro:http://www.fundacentro.gov.br/dominios/CTN/eventos_detalhes.asp?E=938 
Os eventos contarão com tradução simultânea e com a participação de representantes da Reabilitação Profissional do INSS, de profissionais de saúde e dos pesquisadores Patrick Loisel e Katia Costa-Black, da Universidade de Toronto, Canadá.

Modelo Sherbrooke
O modelo de reabilitação Sherbrooke foi concebido por Patrick Loisel e pressupõe a condução de todo o processo de prevenção de incapacidade e desvantagem social, com reabilitação profissional, contando com a participação de todos os atores sociais envolvidos, sob a promoção do poder público, em particular a Saúde, o Trabalho e a Previdência Social. O projeto-piloto em desenvolvimento em Piracicaba utiliza critérios de incapacidade com base na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade de Saúde da Organização Mundial da Saúde (CIF-OMS). Estão sendo construídos fluxos de atendimento no SUS e no INSS de Piracicaba, ações de intervenção nos ambientes de trabalho, acompanhamento dos reabilitados, com avaliação da qualidade da reabilitação profissional e participação de diversos setores da sociedade.
Maiores detalhes em: http://www.fundacentro.gov.br/ARQUIVOS/CURSOS_E_EVENTOS/FOLDER%20INCAPACIDADE%20E%20REABILITAÇÃO.pdf

terça-feira, 20 de julho de 2010

Assédio moral - condenável, sob qualquer perspectiva...


Conforme o site http://esporte.uol.com.br/futebol/campeonatos/brasileiro/serie-a/ultimas-noticias/2010/07/20/felipe-acusa-corinthians-de-assedio-moral-e-acerta-rescisao-do-contrato.jhtm, o goleiro Felipe acusa seu clube/empregador, Corinthians, de assédio moral.
Para nós, que lutamos contra o assédio, qualquer que seja, já que qualquer tipo de assédio tem sua dimensão moral, a divulgação da notícia pode ser uma oportunidade exemplar de contribuir para relações profissionais mais dignas, em qualquer atividade.
Reproduzimos abaixo a notícia do site citado acima:
"O goleiro Felipe não é mais jogador do Corinthians. O atleta, que treinava afastado do grupo desde que tentou sua transferência para o Genoa (durante a Copa do Mundo), acusa o clube paulista de assédio moral.
A transação de Felipe para o time italiano foi abortada; a nova regulamentação na Itália restringindo a presença de atletas não comunitários emperrou a ida do atleta para a Genoa. Desta forma, ele retornou ao Corinthians, mas desde então treinando separadamente.
Para a vaga deixada por Felipe, o time alvinegro contratou o paraguaio Aldo Bobadilla. Por enquanto, o posto de titular é ocupado por Julio Cesar.
A relação entre Felipe e Corinthians sempre foi conturbada. O mandatário alvinegro entendia que o goleiro necessitava de um “cuidado especial”. Excelente dentro de campo, mas de temperamento explosivo, julgava Sanches.
O relacionamento sofreu o primeiro abalo no final de 2007, pouco depois do rebaixamento do Corinthians no Campeonato Brasileiro. Felipe propôs reajuste substancial do salário alegando ter oferta tentadora do Fluminense.
O então gerente de futebol do Corinthians, Antonio Carlos Zago, reprovou a maneira como o atleta conduziu a negociação. Por ter salvado o time em diversos jogos do Nacional, a diretoria alvinegra renovou o acordo com Felipe na época, apesar do ressentimento.
Vaidoso, Felipe era vigiado sobretudo por Mano Menezes. Quando Ronaldo foi contratado, a preocupação era a maneira como o goleiro iria reagir com a chegada de um novo líder. No entanto, jamais houve crise interna entre os principais atletas do elenco.
Em sua página na internet, o ex-goleiro do Corinthians emitiu nota oficial criticando a conduta do clube alvinegro.
Confira a nota na íntegra:
Na manhã da Segunda-Feira, dia 19 de Julho, nos reunimos com o Sport Club Corinthians Paulista, para amigavelmente junto ao presidente Andres Sanches, acertar a rescisão de contrato do Felipe, uma vez que o atleta está, claramente, sendo vítima de assédio moral em seu trabalho.
Felipe está publicamente fora dos planos da comissão técnica para a disputa da sequência do Campeonato Brasileiro da Série A, sendo obrigado pelo clube a treinar em horário separado dos demais atletas, e sem ter acesso ao campo de treino. Felipe está ainda longe das orientações de um treinador especializado em sua posição, impedido de realizar trabalhos com bola, sendo autorizado única e exclusivamente a fazer musculação na academia.
Entretanto, mesmo diante de todos estes fatores, e de vários outros que configuram a inexistência de condições adequadas para que Felipe exerça dignamente sua profissão, o Corinthians não aceitou qualquer tipo de acordo conosco.
Com isso, nesta Terça-Feira, nos vimos obrigados a recorrer ao sindicato dos atletas para denunciar tais humilhações as quais o trabalhador vem sendo submetido.
Mantendo nosso respeito ao tamanho da instituição e procurando minimizar a repercussão que sempre causa o nome de Felipe, deixamos claro que continuaremos nos pronunciando somente de forma oficial e quando fatos novos surgirem. E que, por enquanto, nosso atleta continuará em silêncio, até julgarmos oportuno que ele se pronuncie.
Sem mais para o momento,
Bruno Paiva; Marcelo Goldfarb; Marcelo Robalinho"
É bom registrar que não estamos condenando o clube, defendendo o goleiro ou acusando qualquer parte.
O registro e divulgação da notícia aqui guarda o objetivo único de mostrar que o assédio é sempre condenável, qualquer que seja a atividade e/ou relação profissional.

domingo, 18 de julho de 2010

Dejours e a relação entre adoecimentos mentais e trabalho

"A psicodinâmica vai bem, mas temos um paradoxo, o trabalho vai mal". A frase foi dita pelo psiquiatra e psicanalista francês, Christophe Dejours, em sua passagem pelo Brasil. Dejours publicou o seu primeiro livro sobre Psicopatologia do Trabalho em 1980. De lá para cá, o mundo laboral foi sacudido por mudanças organizacionais.
Entre elas, a avaliação individual que traz grande impacto na saúde mental. Com a individualização do desempenho, o sujeito é isolado e fica mais fragilizado. Nesse cenário, não conta com a solidariedade dos colegas. Não há a cooperação que havia no passado.
Os adoecimentos mentais, a incidência de assédio moral e até mesmo suicídios relacionados ao trabalho crescem. Por isso, o trabalho vai mal. Mas as mudanças não ficam apenas nos problemas. A área estudada por Dejours se amplia com uma nova denominação nos anos 90: Psicodinâmica do Trabalho.
Nos anos 80, o pesquisador usa a Psicopatologia do Trabalho para estudar como as pessoas estão adoecendo em uma organização fundamentalmente taylorista. No entanto, o trabalho que pode ser fonte de sofrimento patogênico e desequilíbrios, pode também ser construtor da saúde mental. Essa situação dialética entre sofrimento e prazer no trabalho passa a ser abrangida pela psicodinâmica.
Christophe Dejours é professor do Conservaitore National des Arts et Métiers em Paris, onde dirige o Laboratório de Psicologia do Trabalho e da Ação. Esteve em São Paulo no final de abril para participar do VI Colóquio Internacional de Psicodinâmica e Psicopatologia do Trabalho e do I Congresso da Associação Internacional de Psicodinâmica e Psicopatologia do Trabalho.
Foi a primeira vez que esse evento ocorreu fora da França. Durante a estadia, o psiquiatra falou com a Revista Proteção sobre os problemas do mundo do trabalho atual e como superá-los.
PROTEÇÃO - A forma como o trabalho vem sendo organizado tem possibilitado um ambiente propício para o maior aparecimento de doenças e transtornos mentais? Existe um conflito entre a organização do trabalho e o funcionamento psíquico?
DEJOURS - Há quarenta anos sabemos que é importante distinguir a relação entre corpo e as condições de trabalho, as quais abrangem riscos químicos, físicos e biológicos. Temos que entender o corpo das pessoas. Para isso, contamos com pelo menos três grandes disciplinas, que seriam a Medicina do Trabalho, a Ergonomia e a Higiene Industrial.
Outra relação a ser compreendida é a organização do trabalho de um lado, e a saúde mental de outro. A organização do trabalho sempre vai trazer reflexos para a saúde mental. Na última década, vemos que os constrangimentos ligados a esta organização mudaram bastante. Antes, já havia problemas de saúde mental ligados ao trabalho, mas, atualmente, existe uma evolução da patologia mental relacionada ao trabalho. Vemos, por exemplo, o acréscimo das patologias de sobrecarga, principalmente das patologias pós-traumáticas.
Há um crescimento também das patologias depressivas e o aparecimento de suicídios no local de trabalho. Algo mudou na organização do trabalho. Uma dessas mudanças é a questão da avaliação, que implica em transformações na forma como o trabalho está organizado.

Fonte: Revista Proteção in http://www.anamt.org.br/newsletter/le_newsletters.php?idnewsletter=95&id=239