segunda-feira, 27 de julho de 2009

Entrevista sobre "assédio moral"

Em entrevista cedida com exclusividade ao Observatório Social, Ângelo Soares, pesquisador e professor da Universidade do Quebec em Montreal (Canadá), fala sobre assédio moral, emoções e saúde mental no trabalho. Nesta quinta-feira (23), Soares ministrou a palestra Assédio Moral: quando o trabalho é indecente, realizada em São Paulo pelo Instituto Observatório Social e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT). Doutor em sociologia do trabalho, Soares ensina nos cursos de comportamento organizacional, violência no trabalho e administração de recursos humanos.

Instituto Observatório Social: O que difere o assédio moral das outras formas de violência?

Ângelo Soares: O assédio moral é uma forma de violência psicológica. O que a difere é que ela não deixa traços visíveis no indivíduo. Mas, com certeza, é uma violência que destrói, e muitas vezes muito mais que a violência física. Os efeitos psicológicos são devastadores para a pessoa que vive o assédio moral.

IOS: Quais são os principais atos caracterizados como assédio moral?

AS: Temos pelo menos cinco tipos que classificam esses atos. Pode-se limitar a comunicação da pessoa, impedindo que a pessoa se comunique e se exprima. Também pode acontecer que se mine as relações sociais dessa pessoa, tentando isolá-la dos colegas do trabalho, por exemplo, trabalhando em um lugar distante do grupo. Também temos atos associados a criticar a pessoa enquanto ser humano, dizendo, por exemplo, que ela está louca, que é frágil, que tem problemas. O quarto tipo de ato é criticar o trabalho da pessoa, onde é comum se ver situações onde passam para a pessoa tarefas que ela não é capaz de fazer, ou que são difíceis de realizar, ou tarefas inferiores à competência e capacitação que a pessoa possui. E a quinta categoria de atos é o comprometimento da saúde da pessoa. Essas ações, quando combinadas ou repetidas ao longo do tempo, caracterizam assédio moral.

IOS: Qual a diferença entre o assédio moral e o assédio sexual?

AS: Sempre que há caráter sexual, com ou sem violência física, é assédio sexual. Pode ser desde a expressão do interesse até a agressão física, como passar a mão, beliscar, tocar os seios. O assédio moral, na maioria das vezes, não é físico. Em geral são ações e palavras com a intenção de destruir psicologicamente a pessoa. Muitas vezes eles podem vir juntos. A pessoa é assediada sexualmente e recusa, já que no assédio sexual é muito importante que a pessoa exprima claramente que não está interessada por aquilo, e essa expressão pode ser até por carta reconhecida em cartório. Mas é comum acontecer, depois que a pessoa recusa, ela passar a sofrer assédio moral com a intenção de eliminá-la do ambiente do trabalho. Em um caso ou no outro, não podemos esquecer que toda forma de violência tem efeito psicológico, e às vezes uma ameaça destrói mais que um tapa na cara. Porque você pode mostrar que o tapa existiu, ele pode deixar marcas. Mas a ameaça é invisível e causa efeitos que não se podem mostrar.

IOS: Há setores onde o assédio moral é mais recorrente?

AS: É muito difícil identificarmos um grupo. Todo mundo pode ser assediado moralmente. Isso é um problema associado à organização do trabalho, aos modos de gestão, à estrutura da empresa. Todas essas variáveis são importantes e estão na base do assédio moral. É uma forma de violência que pode atingir do lavador de carro ao médico ultra-especializado. Não há um perfil de quem seja mais ou menos assediado.

IOS: É possível traçar um perfil das causas dessa violência?

AS: As causas estão intimamente ligadas à organização do trabalho, à forma com que o trabalho é realizado na organização. Isso envolve hierarquia, carga de trabalho, autonomia que a pessoa possui ou não, reconhecimento do trabalho, e diversas outras questões. É importante deixar claro que o assédio moral não é um problema individual. Não é o indivíduo que está com problema. O assédio moral é uma doença organizacional, e deve ser tratado desde a origem, mudando a organização do trabalho, a ausência da liderança, as formas de resolução de conflitos.

IOS: O que o trabalhador que se sente assediado pode fazer?

AS: Uma ação importante para o trabalhador que acha que está sendo assediado moralmente é a produção de um diário, uma agenda sólida, na qual não possam ser inseridas ou retiradas páginas. Nela, o trabalhador pode fazer relatórios diários, escrevendo o que viveu em cada dia. Mesmo que ele ache que não seja assédio, é importante escrever, registrar, e deixar que uma pessoa de fora faça esse julgamento. Escreva o que viveu, como se sentiu, como respondeu, se teve alguma reação, o que aconteceu. Escreva e não faça rasuras. Se esqueceu de escrever alguma coisa no dia primeiro do mês e já estamos no dia 23, escreva na página do dia 23 que esqueceu de relatar o que aconteceu no dia primeiro. Com isso, é mais fácil identificar o assédio, e facilita a pessoa que irá fornecer ajuda, porque a história toda está contada de forma linear, e pode ser um importante elemento de prova.

IOS: Depois de feito esse diário, quem ele pode procurar?

AS: Se a pessoa for sindicalizada, ela deve procurar o sindicato. O sindicato deve ajudar e responder a esse problema, além de indicar ajuda psicológica.

IOS: Quais os principais efeitos do assédio moral sobre a vítima?

AS: Ela pode apresentar problemas relacionados à saúde mental, pode ter estresse elevado, pode desenvolver sintomas de estresse pós-traumático e sintomas depressivos. Não podemos desconsiderar os efeitos que vão refletir nas pessoas próximas a ela, na família e no círculo social. Há também, e em muitos casos, a exclusão do mercado do trabalho, seja por adoecimento, seja por desemprego.

IOS: Como os empregadores podem agir para eliminar o assédio moral?

AS: As empresas devem estar preparadas para o problema. É preciso ter uma política organizacional conhecida por todos, para que todos saibam o que podem ou não fazer. Se acontecer o assédio, a empresa deve falar como vai tratar. É importante que a empresa não feche os olhos. O grande erro é pensar que não existe na minha empresa e, como conseqüência, não pensar nas medidas para prevenção e para evitar essa forma de violência. Quando a empresa está atenta ao problema, é mais difícil que ele aconteça.

IOS: A ação relacionada ao assédio moral difere de acordo com o sexo ou a idade da vítima?

AS: Nas pesquisas que realizei, não encontrei diferença no assédio contra homens e mulheres. O que encontrei foi diferença relacionada à faixa etária das vítimas. Tanto os mais jovens quando os mais velhos são assediados, mas o são de maneira diferente. Os gestos contra os mais jovens são para desacreditar a pessoa, são para afetar a reputação pessoal. Por outro lado, os gestos usados para assediar os mais idosos, com mais tempo de trabalho, são gestos para desacreditar o trabalho que eles realizam, a sua reputação profissional.

IOS: O que as pessoas, como sociedade, podem fazer para acabar com o assédio moral?

AS: Temos que agir de forma pró-ativa na prevenção. Quando o mal é feito, é um mal muito grande, é muito sofrimento para a vítma. Devemos tentar prevenir sempre e, nos casos onde não consigamos prevenir, devemos intervir de maneira rápida e eficiente, para limitar ao máximo o estrago feito.

Fonte: Paola Bello, IOS

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Aspectos da organização do trabalho são aliados da perícia médica

A definição da competência da Justiça do Trabalho para julgar lides sobre doenças ocupacionais trouxe significativo aumento na realização das perícias médicas. A perícia médica tem como objetivo estabelecer o nexo de causalidade entre a atividade desenvolvida e a doença presumida em reclamações trabalhistas.
O incremento na demanda de laudos periciais relacionados às reclamações trabalhistas faz surgir a necessidade de se estabelecer critérios e métodos para a realização de um parecer médico que retrate fielmente a situação que se apresenta. A realização de perícia médica no trabalhador sem a preocupação de um profundo conhecimento sobre como se organiza e se executa o trabalho induz a equívocos com graves prejuízos para a apuração da verdade dos fatos.
Analisar os aspectos da organização do trabalho é fundamental para o entendimento da doença ocupacional. Essa análise mostra-se igualmente importante para o levantamento e a apresentação de dados que comprovam ser o ambiente de trabalho gerador de patologias ocupacionais. A análise também estabelece a correlação entre as informações colhidas na anamnese (questionário sobre estado de saúde) e no exame físico, realizados em consultório, com os fatores determinantes do adoecimento, presentes nos locais de trabalho.
Para tanto, será apresentada e analisada a trajetória de uma perícia trabalhista referente a um caso de adoecimento por DORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho), na função de operadora de caixa de supermercado, nas diversas instâncias da justiça trabalhista.
A perícia médica, apoiada em dados da vida laboral do trabalhador e na análise da atividade, sustentou o presente caso em seu trajeto na Justiça do Trabalho até o julgamento final pelo Tribunal Superior do Trabalho.

Autores: Moizés Martins Junior e Maria Christine Werba Saldanha

Fonte: Revista Proteção - 17/7/2009
http://www.protecao.com.br/novo/template/noticias.asp?setor=3&codNoticia=6543&__akacao=160878&__akcnt=3aff233e&__akvkey=aa08&utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=Proteção%20Newsletter%20Ed.%2028/09

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Trabalhar demais aumenta risco de demência

Excesso de horas extras resulta em mais estresse e depressão

Uma pesquisa realizada por cientistas finlandeses com mais de dois mil voluntários sugere que o risco de demência aumenta de acordo com o ritmo de trabalho. O estudo, publicado na American Journal of Epidemiology , apontou que as habilidades mentais daqueles que faziam mais horas extras era muito menor do que aqueles que não ultrapassavam o limite normal de horas trabalhadas.Segundo os cientistas, o estilo de vida prejudicial à saúde desencadeia fatores como sono prejudicado, depressão e estresse - características de pessoas que trabalham além da conta. O Mal de Alzheimer era a demência mais atribuída a esses trabalhadores.

Fonte: http://msn.minhavida.com.br/materias/alimentacao/Trabalhar+demais+aumenta+risco+de+demencia.mv

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O impacto emocional da dor crônica



Stress, ansiedade, insegurança e tristeza podem causar não apenas sofrimentos psíquico, mas também aumentar a susceptibilidade à dor física. O Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, mapeou os principais fatores ligados à emoção, aos e hábitos e traços de personalidade que influenciam a qualidade de vida mulheres que sofrem de dores crônicas. Foram acompanhadas, durante o ano de 2008, 173 participantes do grupo de apoio Mulheres que Doem Demais. Segundo 74,55% das pacientes ouvidas, a depressão aumenta a sensação dolorosa; 65,45% disseram que o stress faz aumentar a dor e 67,2% notam que a ansiedade deflagra crises. A principal reclamação das pacientes referia-se à falta de apoio familiar: 49,09% alegaram se sentir emocionalmente carentes, especialmente nos momentos de crise. “Embora o apoio da família e das demais pessoas próximas seja importante e necessário, a mulher precisa aprender a identificar as limitações do outro, buscando em si mesma maneira para amenizar seu sofrimento”, afirma a psicóloga Dirce Perissinotti, coordenadora do grupo. Em paralelo às discussões de grupo, as pacientes respondiam a questionários com indicações do grau de interferência da dor em suas vidas. Segundo Dirce, um dado importante da pesquisa é que 50,91% das mulheres reconhecem que a prática de exercícios físicos diminui a intensidade da dor.

Fonte: http://blogdamentecerebro.blog.uol.com.br/

Compulsão por games quase nunca é 'vício'

Dono de clínica na Holanda diz acreditar que problema é mais social do que psicológico
Cerca de 90% dos jovens que procuram tratamento por se considerarem jogadores compulsivos de videogame não estão viciados, segundo o fundador da única clínica da Europa dedicada ao problema.

Keith Bakker, do Centro Smith & Jones, em Amsterdã, na Holanda, já tratou centenas de jovens desde que a clínica foi inaugurada, em 2006.
Mas o centro está mudando a maneira como cuida de seus pacientes depois de perceber que jogar videogame compulsivamente é um problema mais social do que psicológico.
Usando o tradicional modelo baseado na abstinência, a clínica foi bem-sucedida na maioria dos casos em que os jovens também apresentavam outros tipos de vício, como o abuso de drogas ou álcool.
Mas Bakker diz acreditar que os vícios múltiplos afetam apenas 10% dos jogadores compulsivos. Para os outros 90% que dizem passar pelo menos quatro horas por dia diante do videogame, o fundador da clínica duvida que o aconselhamento psicológico seja o melhor tratamento.
"Esses garotos chegam ao centro com alguns sintomas parecidos com os de outros tipos de vício ou dependência química", afirma Bakker, em entrevista à BBC.
"Mas quanto mais lidamos com eles, menos tendo a crer que possamos chamar o problema de vício. O que a maioria deles precisa é dos pais e dos professores", avalia. "É um problema social."

Intervenção
Segundo o fundador da clínica de Amsterdã, a intervenção pode ser a única maneira de quebrar o círculo vicioso para os mais jovens. Isso às vezes significa literalmente tirar a criança do computador por um tempo até ela se dar conta de seus hábitos e começar a ver que existem outras opções na vida.
"É uma escolha", diz Bakker. "Esses jovens sabem exatamente o que estão fazendo e simplesmente não querem mudar. Se ninguém ajudá-los, nada vai acontecer."
Ele afirma que, se houvesse um comprometimento maior dos pais e educadores em ouvir o que as crianças dizem, problemas como isolamento e frustração poderiam ser cortados pela raiz, levando esses jovens do mundo virtual de volta ao mundo real.
A clínica agora começou a modificar seu programa de tratamento, concentrando-se mais em realizar atividades que desenvolvam as habilidades sociais e de comunicação dos pacientes, para ajudá-los a se reintegrar à sociedade.
"O problema do jogo compulsivo é resultado da maneira como vivemos hoje em dia", afirma Bakker. "Cerca de 80% dos jovens que passam por nossa clínica sofreram abusos de colegas de escola e se sentem isolados. Muitos de seus sintomas podem ser resolvidos voltando às velhas noções de comunicação."
Ao oferecer aos pacientes um espaço onde eles se sentem aceitos e ouvidos, a clínica diz ter descoberto que a maioria conseguiu abandonar o jogo e reconstruir suas vidas.

Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Games/0,,MUL875519-9666,00-COMPULSAO+POR+GAMES+QUASE+NUNCA+E+VICIO+DIZ+ESPECIALISTA.html

Pesquisa vincula transtorno de estresse pós-traumático a demência

Estudo da Universidade da Califórnia analisou 53 mil veteranos de guerra.
Risco de desenvolver síndrome quase dobra, mas razão ainda é ignorada.

Veteranos de guerra com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) apresentam quase o dobro do risco de desenvolver demência na comparação com veteranos que não sofrem do distúrbio. A conclusão é de pesquisa apresentada nesta segunda-feira (13) em reunião da Associação sobre Alzheimer, em Viena (Áustria). Trata-se do primeiro estudo a determinar vínculo entre a síndrome e problemas mentais posteriores.

Kristine Yaffe, da Universidade da Califórnia em São Francisco, analisou dados de 53.155 veteranos diagnosticados com estresse pós-traumático. A média de idade dos pacientes monitorados era de 69 anos. Mais de 10% dos veteranos com TEPT desenvolveram demência, comparados a 6,6% que não tinham o distúrbio. Mesmo quando foram considerados outros fatores de risco, como danos cerebrais e depressão, os veteranos com estresse pós-traumático ainda apresentavam quase o dobro do risco para demência.

“A grande questão a ser respondida é por que isso ocorre”, explica Ronald Petersen, pesquisador da Clínica Mayo, em Rochester, Minnesota. Alguns trabalhos já haviam associado o TEPT à diminuição do volume do hipocampo, a parte do cérebro envolvida com memória e resposta a estresse. O mal de Alzheimer é a forma mais comum de demência, caracterizada por perda de memória e de outras habilidades cognitivas, como fala, identificação de objetos ou raciocínio abstrato


Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1228031-5603,00.html



sexta-feira, 10 de julho de 2009

LER custará R$ 2,1 bi à Previdência este ano



Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 05/07/09

ANDRÉ LOBATO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os movimentos repetitivos que desgastam ossos e músculos dos trabalhadores brasileiros vão custar cerca de R$ 2,1 bilhões à Previdência Social neste ano. O valor equivale, por exemplo, a um quinto do investido no Bolsa Família em 2008.

A LER (lesão por esforço repetitivo) teve sua identificação por peritos do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) aumentada em 586% entre 2006 e 2008. Os casos passaram de 20 mil em 2006 para 117,5 mil em 2008. A pressão por metas e as condições inadequadas, ressaltam especialistas ouvidos pela Folha, são os principais motivadores da doença.

O salto no reconhecimento da LER pode ser explicado pela implementação, em 2007, do NTEP (Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário).
Em linhas gerais, o NTEP é uma relação entre atividades profissionais e suas doenças mais comuns. Antes de ele ser estabelecido, cabia ao profissional provar que a doença estava ligada ao trabalho.

Agora, a empresa passa a ter de provar que ofereceu condições para que o empregado não adoecesse. Assim, a associação entre enfermidade e trabalho tornou-se quase automática."Grande parte desses números é proveniente do setor de serviços", afirma Remígio Todeschini, diretor do Departamento de Políticas Públicas de Saúde e Segurança Ocupacional da Previdência Social.Há, contudo, quem considere que o salto entre 2006 e 2008 ainda não reflita a realidade. Para Walcir Previtale, secretário de saúde do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, há subnotificação dos casos.

"O nexo não é respeitado pelos peritos, que também não fundamentam os laudos", diz.

O presidente da Associação Nacional dos Médicos Peritos, Luiz Carlos de Teive e Argolo, rebate afirmando que "cabe ao perito reconhecer ou não o nexo, e é obrigação dele dar um laudo bem fundamentado".
Trabalhador há 20 anos do setor bancário, G.B. sofre de LER e afirma ter piorado após sair da reabilitação do INSS. Segundo ele, voltou para a mesma função, de caixa de banco. Com o esforço, o tendão do ombro se rompeu.

NTEP

Com o objetivo de associar diretamente causa de doença com profissão, o Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário começou a funcionar em abril de 2007. Técnicos usaram estatísticas para identificar quais doenças eram mais comuns em cada tipo de atividade.FAP O Fator Acidentário de Prevenção multiplica a alíquota de acidentalidade paga por empresas por um valor entre 0,5 e 2. Em seu cálculo, o índice de gravidade de mortes é de 0,5, enquanto o de afastamentos por auxílio-acidente é de 0,1.

Acidentes pesarão mais no caixa das empresas
Todo afastamento registrado será computado em fator de cobrança

Seguindo a tendência de aumento do cerco às empresas em benefício do trabalhador, a partir de 2010 a frequência de acidentes do trabalho dentro de cada companhia incidirá diretamente sobre o caixa dela.

Em janeiro, as empresas pagarão pela primeira vez o FAP (Fator Acidentário de Prevenção), alíquota de acréscimo ao valor devido ao INSS que leva em conta o número de acidentes e doenças do trabalho por CNPJ ocorridos após 2007.

Em 5 de junho passado, uma nova resolução refez o cálculo do FAP. Agora, qualquer CAT (Comunicação de Acidente do Trabalho) que seja reportada ao INSS passará a entrar na conta do fator de prevenção.
Antes, o acréscimo no FAP só ocorria quando o profissional era afastado por uma doença ou um acidente que estivesse relacionado à sua função de trabalho pelo NTEP.

"Tudo que é registro de CAT mais tudo que é registro acidentário feito por perícia médica do INSS [entra na conta]. O novo FAP pega a realidade concreta e não estabelece simplesmente a prevalência estatística [do NTEP]", avalia Remígio Todeschini, da Previdência Social. Ele calcula que, com isso, até 90 mil novas CATs serão adicionadas ao sistema.

Com esse cenário, analisa o consultor Antonio Carlos Vendrame, autor de livros sobre saúde e segurança, "o perito voltará a ter uma responsabilidade maior". Pois não bastará guiar-se pelo nexo epidemiológico, que associa função com atividade; será preciso estabelecer essa ligação em casos não previstos, explica Vendrame.Para Selma de Aquino, advogada e consultora jurídica do Sindicato da Indústria Farmacêutica do Estado de São Paulo, a conta da empresa deve ficar mais cara. "Será preciso investir de verdade na qualidade do sistema de saúde e segurança."

O FAP é uma espécie de monitor dos resultados de acidentes fatais e não fatais, doenças e afastamentos de cada empresa. Ele incide sobre as alíquotas -de 1%, 2% ou 3%- que todas as empresas devem pagar de acordo com o risco de sua atividade. O FAP pode diminuí-las pela metade (acidentalidade baixa) ou dobrá-las (alta).Na fórmula do FAP (veja cálculo ao lado), as mortes apresentam o maior peso. Uma bolsa-acidente representa índice de gravidade 0,1, ao passo que uma morte equivale a cinco vezes esse número.Dessa forma, CNPJs do mesmo setor e com o mesmo risco deixam de ter o mesmo FAP.

A linha verde do Metrô paulistano, que não contabilizou mortes, por exemplo, não terá esse índice de gravidade associado a sua conta. Já a linha amarela, que teve quatro mortes, terá em sua conta o peso das três ocorridas desde 2007.

Resolução limitará rotatividade

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma nova resolução do Conselho da Previdência Social, que deve ser publicada em setembro, busca estabelecer limites para a rotatividade de trabalhadores dentro das empresas.Segundo o documento, obtido pela Folha, "não será concedida a bonificação [do FAP, que pode reduzir pela metade a alíquota devida] para as empresas cuja taxa média de rotatividade for superior a 75%".

A taxa é o percentual entre rescisões ou admissões ocorridas em um ano sobre os vínculos desse período. Uma média dos dois últimos anos é usada para definir a rotatividade.

Mas, pelo texto, fica previsto que as empresas não serão penalizadas se comprovarem que as normas de saúde e segurança do trabalho foram observadas nos casos de demissões voluntárias ou término da obra.TerceirizaçãoA medida poderá afetar, entre outras, empresas de terceirização com rotatividade alta.

Elas também ficarão mais expostas no caso do FAP. Isso porque, embora o trabalhador esteja em um ambiente de trabalho externo, da contratante, o fator incidirá sobre o CNPJ do vínculo trabalhista -ou seja, da empresa de terceirização.

Dessa forma, se uma terceirizada tiver uma boa gestão e a contratante oferecer mais riscos, o cálculo do FAP recairá sobre a primeira. "É preciso que os dois lados entrem em um acordo efetivo sobre saúde e segurança do trabalhador", defende a advogada e consultora Selma de Aquino.

Problemas de saúde persistem

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há 30 anos, a capa do gibi da primeira semana de saúde do trabalhador, organizada por cerca de 50 sindicatos em São Paulo, citava problemas que ainda existem, como a silicose."Nessa época, o Brasil era campeão mundial de acidentes de trabalho, com 1 milhão de casos por ano. Agora, estamos com quase 700 mil acidentes anuais. Ou seja, voltando à marca de 30 anos atrás", analisa Wilson Cesar Ribeiro Campos, coordenador técnico do Diesat (Departamento Intersindical de Saúde do Trabalhador). "E com problemas mais desafiadores, como o da saúde mental e o do assédio moral."

Espécie de endurecimento do pulmão por problemas respiratórios, a silicose ainda necessita de políticas públicas e privadas para ser evitada.
Recentemente, por exemplo, o governo proibiu o corte a seco de mármore, já que esse processo emite uma quantidade maior de poeira. Os empregadores têm até agosto deste ano para se adequarem às regras.