segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Drogas causam 20% dos acidentes de trabalho no mundo, diz OIT


Um em cada cinco acidentes de trabalho é provocado pelo consumo de drogas, segundo um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apresentado na Academia de Ciências Médicas de Bilbao, na Espanha. A pesquisa, divulgada na palestra "Consumo de drogas, álcool e medicamentos no trabalho", indica que os setores profissionais com as maiores taxas de acidentes são os de relações públicas, comércio e construção.

O estudo se baseia na investigação de 38 empresas dos Estados Unidos, Europa e Ásia durante os últimos cinco anos.
"O antigo conceito do viciado jogado pela rua está completamente defasado. Neste momento, em todo o mundo, 67% das pessoas com algum tipo de dependência química estão integradas ao mercado de trabalho, e algumas com sucesso", disse na palestra o psiquiatra Jerônimo San Cornélio, presidente da Academia de Ciências Médicas de Bilbao e um dos autores da pesquisa.
De acordo com o relatório, entre 15% e 25% dos acidentes de trabalho diários ocorrem no local onde os profissionais exercem as atividades ou em "in itinere" (deslocamentos) pela impossibilidade de manter os reflexos.
Essa incapacidade de concentração e coordenação é provocada, dizem os especialistas, principalmente pelo consumo habitual de álcool, cocaína, maconha, heroína e remédios para controlar a ansiedade em profissionais numa faixa etária entre 20 e 35 anos.

Mulheres

Segundo o psiquiatra espanhol, três razões fundamentais induzem um profissional qualificado a manter o hábito de se drogar: a atração pela substância, a fisiologia de cada indivíduo e a pressão social.
"Numa sociedade onde pesa a ideia de que só os mais preparados alcançam o sucesso, uma pessoa com problemas de autoconfiança procura estímulos externos. Neste aspecto o consumidor acaba vítima de si mesmo."
Sobre o perfil do trabalhador viciado, os homens são maioria: 75% dos casos de acidentes relacionados com o consumo de drogas são verificados entre profissionais do sexo masculino e 25% do sexo feminino.
Mas o relatório da OIT indica que a diferença está diminuindo. Na década passada os homens eram 90% dos envolvidos, contra 10% de mulheres.
Entre as características que mais delatam problemas no ambiente de trabalho relacionados com o consumo habitual de drogas estão atitudes de nervosismo, irritabilidade, falta de concentração e excessivos pedidos de dispensa.
Segundo Jerônimo San Cornélio, "um trabalhador que se droga com frequência normalmente dobra a média de dias de licença". O psiquiatra defendeu o sistema de algumas empresas que aplicam testes antidroga para funcionários que aspiram a altos cargos. "Todos somos livres para consumir o que quisermos, mas o lugar de trabalho envolve responsabilidade sobre os demais profissionais", disse.
Para o médico especialista em toxicomania, não há setores profissionais que escapem do âmbito do consumo. Pioneiro no tratamento de médicos viciados, ele disse que "as drogas estão em todas as classes sociais" e que estejam, portanto, "em todas as (classes) profissionais é uma simples questão de lógica".

Artigo publicado na Revista Proteção - 19/11/2009 - Fonte: Terra Notícias/Clipping ACS de 23/11

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Depressão será a doença mais comum do planeta em 2030



Conforme a edição 202, da Revista Mente e Cérebro (novembro/2009): "Nos próximos 20 anos, a depressão deverá afetar mais pessoas que qualquer outro problema de saúde, inclusive as doenças cardiovasculares e o câncer. A estimativa é da Organização Mundial de Saúde (OMS). A entidade alerta também para os custos econômicos e sociais e para a diminuição da produtividade resultantes dos gastos com tratamento. Países pobres, onde já se registram mais casos de depressão que os desenvolvidos, serão os mais afetados nas próximas décadas. 'A patologia tem diversas causas, algumas biológicas, mas parte delas vem de pressões ambientais e, obviamente, as pessoas pobres sofrem mais stress no dia a dia que as ricas, e não é surpreendente que tenham mais depressão', disse o médico Shekhar Saxena, do Departamento de Saúde Mental da OMS, na primeira Cúpula Global de Saúde Mental, em Atenas, na Grécia. Segundo ele, não devemos considerar que haja uma epidemia silenciosa, porque a depressão vem sendo cada vez mais diagnosticada. 'Mas as pessoas têm o direito de ser aconselhadas e tratadas como em qualquer outro distúrbio, e é preciso mudar a mentalidade em relação à doença', ressalta o médico."

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Será que a tecnologia está redefinindo quem somos?

40 ANOS DE INTERNET... 
Marcelo Gleiser
Faz 40 anos que os computadores de Leonard Kleinrock, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, e de Douglas Engelbart, do Instituto de Pesquisas na Universidade de Stanford, foram conectados por uma "linha especial" da Arpanet, um sistema de apenas quatro computadores que faziam parte de um projeto do Departamento de Defesa dos EUA.
Com o passar dos anos, o sistema exclusivo de tráfego de informação evoluiu, saiu dos laboratórios de cientistas para o público e hoje é conhecido como internet.
Não há dúvida de que a internet está transformando o mundo, de que vivemos em meio a uma revolução. A questão, ou uma delas, é que tipo de revolução é essa: será que a internet pode ser comparada, por exemplo, ao telefone ou ao carro, ou mesmo à imprensa de tipo móvel, que revolucionou o livro? Ou será que ela pertence a outra classe de tecnologia, que não só transforma a sociedade mas que vai além, redefinindo quem somos?
A questão é complicada, difícil até de ser formulada. O telefone e o carro transformaram o modo como as pessoas se comunicavam, iam ao trabalho, viajavam, viam o mundo. Como toda tecnologia que se torna de uso público, primeiro começaram pequenos, com alcance limitado: eram poucas as linhas telefônicas e as estradas.
Aos poucos, as coisas foram crescendo e, em meados do século 20, telefones e estradas estavam pelo mundo todo. Uma diferença bem importante é que a internet, por ser acessível por computadores, é bem mais aberta aos jovens. Telefones celulares também; os jovens têm a sua privacidade, o seu espaço virtual separado do dos pais e irmãos. A comunicação é tão fácil e rápida que chega a tornar o contato direto, em carne e osso, desnecessário.
Talvez seja uma preocupação dos meus leitores mais velhos, que, como eu, nutriam as amizades no campo real e não por meio de sites como Facebook e Twitter, mas será que a internet nos fará desaprender como nos relacionar diretamente com outros seres humanos?
Deixando esse tipo de preocupação de lado, se olharmos para a história da civilização, veremos que podemos contá-la como uma história da tecnologia. À medida que novas tecnologias foram sendo desenvolvidas, do controle do fogo e da rotação de terra na agricultura até a roda, o arado e os transistores e semicondutores usados em aparelhos eletrônicos, nossa história foi, em grande parte, determinada pelas nossas máquinas. Valores e interesses mudam, e visões de mundo se transformam de acordo com nossos instrumentos.
O Homo habilis, nosso ancestral que usou ferramentas pela primeira vez, evoluiu rumo ao Homo sapiens e, agora, este se transforma no Homo conectus. Será que nossos avanços tecnológicos são, hoje, a principal mola da nossa evolução como espécie? Nesse caso, será que a tecnologia está redefinindo o que significa ser humano?
Descontando uma grande devastação biológica, como uma epidemia de proporções globais ou um cataclismo climático ou ecológico, somos donos da nossa evolução: nossa transformação como espécie ocorre muito menos devido a mutações aleatórias e ao processo de seleção natural do que, por exemplo, devido a um maior intercâmbio racial, à melhor alimentação e aos avanços da medicina, à integração de tecnologias diversas com o corpo (marca-passos, órgãos e membros artificiais) e com a mente (drogas que mudam nossas emoções, implantes nos olhos e ouvidos, chips no cérebro).
A internet talvez represente uma nova fronteira, a da integração coletiva da humanidade a um nível sem precedentes. Se não no mundo real, ao menos no virtual.

Fonte: Artigo publicado na Folha de São Paulo, 8/11

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Educação: questões de nosso tempo...


Texto da Dra. Hilda Alevato, publicado pelo CB25 Notícias, Informativo do Comitê Brasileiro da Qualidade/ABNT, Ano 13, número 59 - Outubro/2009


Uma das marcas mais fortes dos tempos atuais é a instantaneidade.
Os homens têm pressa e buscam velocidade. Consideram lenta uma conexão que leve mais do que 2 segundos para trazer informações sobre qualquer coisa, de qualquer lugar. Já não sabem sequer esperar pelo domingo para ler o jornal de domingo: compram a versão distribuída no sábado. Seria mesmo um jornal de domingo? Não importa...
A mesma marca do instantâneo embute o descartável: nada a conservar. Para que consertar qualquer coisa, se é possível comprar outra, com design mais avançado, sem sair de casa? Sem tempo nem para burilar os amores - conquistas feitas de detalhes, esculpidos em paciência e tolerância - até os afetos se descartam, gerando um vazio que contrasta com a montanha de lixo que os materiais desprezados vão produzindo. É isso: o desprezo afetivo gera um buraco, a sensação oca do nada, enquanto o desprezo material nos entulha de plásticos e pneus que a natureza teimosamente guarda. Em comum, a capacidade de sufocar...
Notícias repetidas à exaustão em inúmeros telejornais e páginas na internet, alimentam a banalização da vida e a falsa sensação de que os problemas são sempre os mesmos e, portanto, insolúveis. Isto contrasta com a multiplicidade de inovações que a tecnologia cria e a indústria nos impõe. Invadidos por chavões sem consistência e perdidos no senso comum das celebridades da hora, vivemos ansiosos por soluções tão mágicas quanto definitivas, que nos deixem livres e desobrigados, quem sabe para viver a ilusão de descobrir tudo logo ali, em outra parte do planeta. Ao mesmo tempo, a ânsia por respostas verossímeis parece compensar a insegurança coletiva de uma vivência tão fragilizada. É difícil imaginar a ficção científica hoje. Tudo parece possível.
Buscamos saber mais e mais, lidando mal com a informação excessiva, disponível e duvidosa, que circula na convergência das mídias. Há ainda os impressos, as ondas, os satélites e até os antiquíssimos contatos pessoais, perdidos entre milhões de contatos online. Tantos dados e descrições, simplificados para sobrar tempo/espaço para outros tantos, vão deformando a realidade como na brincadeira do "telefone sem fio", tão antiga quanto as "certezas" que ninguém mais arrisca assumir. Ninguém? Não tenho certeza...
Como escapulir de tantas armadilhas? Pela educação, responderiam alguns. Educação, entretanto, requer tempo, acolhimento, carinho, atenção.
Mas, e nossas escolas? Instituídas num tempo em que sequer havia papel, destinadas a preservar e transmitir o "conhecimento", dependentes de memorizações e repetições precisas do que diziam, com segurança, os sábios, vêem-se hoje impactadas por questionamentos e dúvidas de toda ordem.
Dispondo de tantas formas de armazenamento e acesso aos dados e informações, a sociedade atual ainda não se apercebeu que enfrenta o desafio de dar nova destinação à escola: destinar o esforço educativo ao desejo de aprender e à transformação dos procedimentos escolares; destinar o esforço didático ao domínio das linguagens; destinar o esforço social à valorização da educação e da acolhida; destinar o esforço político ao apoio à enorme tarefa que nossos professores e pedagogos têm enfrentado.
Não há fórmulas prontas e a sensação de muitos é de uma grande incompetência, teórica e prática. Não concordo com isso. Vivemos a inescapável condição de sujeitos de uma história que ainda não acabou...

Fonte: http://www.abntcb25.com.br/cb25noticias/ed59/M01.htm