quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Do diretor de criação de uma agência (atribuído a Valter Montani, em e-mail recebido por leitor desse Blog, em 12/12/08), sobre a crise mundial:

"Vou fazer um slideshow para você. Está preparado?
É comum, você já viu essas imagens antes. Quem sabe até já se acostumou com elas.
Começa com aquelas crianças famintas da África.
Aquelas com os ossos visíveis por baixo da pele. Aquelas com moscas nos olhos.
Os slides se sucedem.
Êxodos de populações inteiras. Gente faminta. Gente pobre. Gente sem futuro.
Durante décadas, vimos essas imagens. No Discovery Channel, na National Geographic, nos concursos de foto.
Algumas viraram até objetos de arte, em livros de fotógrafos renomados.
São imagens de miséria que comovem. São imagens que criam plataformas de governo.
Criam ONGs.
Criam entidades.
Criam movimentos sociais.
A miséria pelo mundo, seja em Uganda ou no Ceará, na Índia ou em Bogotá sensibiliza.
Ano após ano, discutiu-se o que fazer.
Anos de pressão para sensibilizar uma infinidade de líderes que se sucederam nas nações mais poderosas do planeta.
Dizem que 40 bilhões de dólares seriam necessários para resolver o problema
da fome no mundo.
Resolver, capicce? Extinguir.
Não haveria mais nenhum menininho terrivelmente magro e sem futuro, em nenhum canto do planeta.
Não sei como calcularam este número. Mas digamos que esteja subestimado.
Digamos que seja o dobro. Ou o triplo.
Com 120 bilhões o mundo seria um lugar mais justo.
Não houve passeata, discurso político ou filosófico ou foto que sensibilizasse.
Não houve documentário, ONG, lobby ou pressão que resolvesse.
Mas em uma semana, os mesmos líderes, as mesmas potências, tiraram da cartola 2.2 trilhões de dólares (700 bi nos EUA, 1.5 tri na Europa) para salvar da fome quem já estava de barriga cheia. Bancos e investidores.
Como uma pessoa comentou, é uma pena que esse texto só esteja em blogs e não na mídia de massa, essa mesma que sabe muito bem dar tapa e afagar."

Comentário do NEST:

Não... não está só em blogs. Está em consciências que se constróem nas práticas sociais.
Não me parece que a mídia de massa tenha poder para superar sua própria hipocrisia. O "x" da questão não é o Outro, o rico ou a "mídia" (quem é a mídia sem platéia?).
A miséria do mundo é velha conhecida. Sustenta o olhar superior de gente como nós, que repassa o e-mail acima como se não tivesse nada a ver com isso.
"Resolver" não é apenas uma questão de dinheiro. Todos sonhamos com a convivência (lindas cidades, limpas e preparadas/conservadas - quem limpa os banheiros? - para serem consumidas) com menos miseráveis (a questão mesmo não é a miséria, mas a ameaça dos miseráveis) mas não percebemos o quanto dependemos da produção de exclusões para nosso sustento, inclusive simbólico.
Como sua auto-imagem se nutre disso tudo? Vc agradece a Deus todos os dias? Por quê?
Os sacerdócios nascem e sobrevivem graças aos pecados, conforme lembrava Nietzsche.