segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A saúde mental e o equilíbrio emocional da tropa fora da telona

Vinicius Zepeda
Divulgação/David Prichard

Os policiais civis convivem diariamente com a morte, assim como os do filme. Tropa de Elite
Para quem ainda não sabe, a história do longa Tropa de Elite, de José Padilha, filme nacional mais discutido e aguardado do ano, joga luz sobre os dramas pessoais e morais de um comandante do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro (Bope-Rio). Abalado mental e psicologicamente, Nascimento (interpretado por Wagner Moura) procura uma saída honrosa para seus dilemas pessoais e os vividos na corporação, corroída pela corrupção e violência. Assim como na ficção, uma pesquisa coordenada pela socióloga Maria Cecília de Souza Minayo, com apoio da FAPERJ, mostra que os problemas dos agentes das forças de segurança não se limitam à violência e à ética. Mas se desdobram com conseqüências funestas sobre sua saúde mental e emocional, afetando diretamente a qualidade dos serviços prestados à comunidade.

Desenvolvida no ano de 2005 e concluída no final de 2006, no Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública (Claves/Ensp), a pesquisa Intervenção visando a auto-estima e qualidade de vida dos policiais civis do Rio de Janeiro analisou as condições de saúde mental e psicológica de 148 policiais lotados na Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), comandada na época pelo atual chefe de Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro, coronel Gilberto Ribeiro. "Apesar da melhoria na qualidade de vida desses profissionais ocorrida com a criação do programa Delegacia Legal, verificamos que a ênfase foi extremamente técnica e pouco se investiu na estrutura emocional e psicológica individual deles", recorda Cecília, socióloga e coordenadora do Claves/Ensp, que trabalhou junto dos pesquisadores Edinilsa Ramos de Souza e Edson Ribeiro de Souza.

O estudo, segundo Cecília Minayo, serviu para demonstrar o óbvio: os policiais precisam de apoio psicológico e emocional, e não somente de treinamento técnico. Ao final das entrevistas, os dois grupos responderam a um questionário. "No caso do grupo de controle, não houve modificações", avaliou Maria Cecília. Já naquele que se submeteu às dinâmicas, 80% dos integrantes afirmaram que as atividades tiveram uma influência positiva tanto na vida pessoal quanto na profissional. E também na forma como eles passaram a lidar com o risco", concluiu a socióloga. Os policias pediram, inclusive, a continuidade das atividades de apoio. Os outros 20% foram bastante resistentes e reclamaram do nosso projeto", recorda a socióloga, que entregou uma cópia do estudo às autoridades da Polícia Civil.

Desequilíbrio emocional de policiais influi na qualidade dos serviços

Cecília Minayo realizou estudo com 178 policiais Com o programa Delegacia Legal – criado em 2000 e que desburocratizou a infra-estrutura de pessoal e física das delegacias, tornando-as funcionais e transparentes –, o ambiente de trabalho ficou mais confortável e agradável e os policias começaram a receber cursos quinzenais de treinamento na Academia de Polícia (Acadepol). "Porém, não há ainda na instituição preocupação com a condição psicológica e emocional destes trabalhadores", fala Cecília. "O setor de psiquiatria na PM do Rio é absolutamente controlado pelos oficiais hierarquicamente superiores. Muitos policiais evitam se consultar por medo do preconceito que existe na categoria: buscar apoio psicológico seria aceitar que são fracos ou estão ficando malucos", comenta a socióloga.

O estudo, que consumiu um ano de esforço, entre a preparação das oficinas até a apresentação dos resultados, passando pelas dez dinâmicas, observou que os policiais eram afetados principalmente pelo contato diário com a morte de colegas e vítimas em favelas. E constatou que 50% deles não tiravam férias há mais de três anos; 65% haviam mudado de locação em 2002. E que a Polícia Civil funcionava com apenas 47% do contingente necessário para suas funções. "Isso se reflete diretamente na queda da qualidade dos serviços policiais e no estresse de que são vítimas", afirma Cecília.

Os agentes foram divididos em dois grupos: 72 ficaram no chamado controle, ou seja, não tiveram a rotina alterada e continuaram a receber os cursos na Acadepol, quinzenalmente. Os outros 76 participaram de dinâmicas em que eram promovidos debates, após exibição de vídeos e palestras com profissionais de motivação de equipes. As dinâmicas abordavam itens como auto-estima, qualidade de vida, cultura familiar e clima organizacional. Em seguida, eles respondiam questionários para identificar a qual tópico as questões estavam predominantemente relacionadas.

Nas dinâmicas, as questões sobre humor, alegria e integração foram as que mais agradaram aos policiais. "Neste ponto, chama atenção a fala de um policial sobre a oficina de trabalho 'Integrando pela alegria'. Segundo ele, foi a primeira vez que eles haviam rido juntos", recorda Cecília. "Sorrir e relaxar faz muito bem e é necessário para suportar o estresse do dia-a-dia", teria dito outro policial.

Assim como no filme Tropa de Elite, a questão familiar também foi sublinhada. Durante a oficina 'Polícia e vida familiar: uma conciliação difícil', muitos se identificaram com as situações apresentadas. "Olharei de forma mais cuidadosa e ainda mais apaixonada para minha família", prometeu um dos participantes. Outro, da DRFA, conversou longamente com uma das mediadoras após a tarefa. Já na oficina 'Auto-imagem do policial', a maioria se viu refletida nas perguntas. E destacaram questões ligadas à maior união da classe a fim de mudar a atual imagem pública da corporação. "Isso nos faz pensar que ainda somos importantes, apesar do massacre a que estamos submetidos diariamente", refletiu um dos policiais.
A equipe do Claves, coordenada por Cecília, agora está aprofundando um outro trabalho semelhante, desta vez com a Polícia Militar. A socióloga espera que a opinião dos policiais civis sobre o trabalho seja observada com atenção pela corporação. "Estou certa de que a continuidade dessas atividades é a condição para a melhoria da qualidade de vida do policial, do ponto de vista psicológico. E isso vai se refletir na instituição como um todo", declarou um policial da DRFA. E Cecília ainda acrescenta: "Esse cuidado com a saúde dos policiais se reflete na qualidade dos serviços que prestam à sociedade."

Fonte: Boletim da FAPERJ
http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=3994

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Souza Cruz é proibida de pedir a empregados que degustem cigarros



RIO - A Souza Cruz está proibida de submeter seus empregados à degustação de cigarros, com o intuito de avaliar o produto e o dos concorrentes. A decisão é da 1ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro (TRT/RJ), 1ª Região, em ação na qual o Ministério Público do Trabalho alegou violação, por parte da empresa, à legislação relativa à saúde do trabalhador ao utilizá-lo como provador de substância cancerígena e causadora de dependência química.


De acordo com a decisão do TRT/RJ, a empresa também deverá prestar assistência por 30 anos a cada um dos trabalhadores que desempenham ou desempenharam a função de provadores de cigarros e realizar exames médicos periódicos, tratamento médico e hospitalar, além de pagar as despesas necessárias a aqueles que submeteram à função.


A Souza Cruz foi condenada a pagar R$ 1 milhão por danos morais coletivos. Os valores serão revertidos ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

A ação civil pública foi proposta pelos procuradores do Trabalho Valéria Sá Carvalho da Silva Corrêa, Cynthia Maria Simões Lopes, Juliane Mombelli e André Riedlinger Teixeira, em 2003. A 15ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro decidiu pela procedência da ação do MPT. A sentença foi agora confirmada pelo TRT/RJ.

A investigação começou em agosto de 2002, e foi confirmado que a Souza Cruz mantém um setor denominado Painel de Avaliação Sensorial, que é voltado para a experimentação e avaliação dos cigarros produzidos pela empresa e pelos concorrentes. A degustação é feita por empregados fumantes que trabalham em diversos setores da companhia. Eles avaliam se o produto provoca sensações irritantes, além do gosto, acidez, aroma, impacto ao tragar, entre outros pontos.

Fonte: JB Online - http://jbonline.terra.com.br/extra/2008/01/18/e18013576.html